Ideias!




Mais um passo, gigante varonil!

As notícias correm com velocidade sônica entre as redes sociais, o governo está amedrontado.
Vê-se claramente que as coisas fugiram do controle, o povo acordou.
Unido, o povo, tem poder contra qualquer exército, contra qualquer força política organizada.
A soberania popular deve ser exercida por quem é de direito, pelo povo, sem intervenções. Assim como as manifestações devem ser guiadas pela paixão, insatisfação e desprezo a essa ordem pseudo-democrática que aí está.
O contexto é outro, que caia a direita que caia a esquerda!
Que reste somente o povo!
É o momento de mudança que tanto esperávamos. Não crer que as manifestações correntes em nosso País são capazes de nos levar à vitória sobre a injustiça vivida em décadas de história é ser descrente dos nossos próprios sonhos.
Acreditar que a revolução se dará somente aliada às lideranças políticas é aceitar em nosso seio o salteador que nos renderá e roubará à noite!
Povo brasileiro, tu és a força motriz dessa pátria sem a qual nada funciona, e nada respira!
Não vos enganeis com as palavras corrompidas de partidos políticos, uni-vos. Fundemos, nós, pois o maior de todos os partidos, o partido da soberania popular.
Conheçamos as leis, façamo-las à luz da nossa Constituição, segundo as nossas demandas.
E se o Estado disser não!
Que caia o Estado!
Entendamos que não há governo sem povo e não há povo para servir a governo algum. O governo é que deve servir ao povo.
Às ruas, todos, mais um passo gigante varonil!
Acreditemos a cada dia mais e sempre no poder de mudança que emana do povo!
As bandeiras da revolução foram hasteadas, e elas são brancas, mulatas, negras, indígenas, caboclas e cafuzas, elas são verde e amarelo.
Derrubemos de uma vez essa organização medíocre, cuspamos nas estruturas dessa administração fétida, criemos um país a nossa imagem e semelhança. Um país vivo, forte, livre e rico para todos!
Paz para aqueles que estão nas ruas, paz para aqueles que têm fome de liberdade no peito.
Nossas manifestações pacíficas contra a barbárie de Brasília.
Nossas flores contra os seus rifles, nossas bocas contra as suas bombas, nosso amor à liberdade contra seus tanques, nossos sonhos contra os seus soldadinhos de chumbo.
Mais gente nas ruas, vamos parar esse país!
Vamos deixar nossa marca na história!
Juventude de todo o país avante!
Minorias de todo o país, avante!
Greve geral!
Nós mandamos no Brasil!
Marchemos pelas ruas das nossas capitais!
Insurreição!
Insurreição!
Insurreição!
Que as palavras de ordem sejam sempre a favor dos nossos!
Insurreição!
Insurreição!
Brasileiros, uni-vos!
Brasileiros às ruas!


                                   

             Sexta feira, 21 de junho de 2013 às 01h21min.

Alexsandro Santos de Jesus.
Bacharelando em Direito na Faculdade Dom Pedro II, vocalista e guitarrista na banda de rock The Lex, brasileiro, baiano, soteropolitano e eleitor.









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Aqueles dias


Sabe aqueles dias em que tudo o que você deseja é não acordar?
Há dias em que você não quer ver o sol, não quer de forma alguma levantar da cama.
A vontade de desaparecer completamente é tão grande que você se embrenha nos lençóis a fim de fingir não ver o próprio corpo.
Cria túneis de algodão, desliza sobre a superfície. Sonha estar abraçado com a garota dos seus sonhos, mesmo que não haja com quem sonhar.
Mais uma vez você finge. De repente você percebe que fingir é algo que lhe mantém sorrindo, sozinho.
E você pensa no que fazer durante o dia, mas nada lhe vem à cabeça.
Não há escola para ir, e se houvesse, hoje seria aquele dia em que você iria faltar simplesmente. E no dia seguinte daria uma desculpa esfarrapada à professora.
Está desempregado, e sem muitas esperanças. Não há trabalho senão aquele que você costuma dar a sua família.
Você pensa em tomar um porre, mas lembra-se daquele aviso na parede do bar:
“Fiado só amanhã.”
E você reza na verdade para que o amanhã nunca chegue, mas ele vem.
Forçam-lhe a levantar, você corre pro banheiro. Senta-se na privada, acende um cigarro.
O noticiário canta catástrofes e tragédias. Você suspira, finge não ouvir.
Dá descarga, olha-se no espelho. A barba por fazer, os olhos vermelhos.
Encara a gaveta no armário do banheiro, e você gostaria que dentro dela houvesse uma arma carregada, com a qual pudesse dar fim àquela melancolia.
Tenta fazer a barba. Aprecia a lâmina como faz um estripador a sua faca.
Sua mente obscurece, a razão volta.
Um banho gelado, alguns escorregões no banheiro. E você volta para cama como uma criança amedrontada.
Dorme, dorme por dormir. Toma alguns comprimidos.
À noite vai à casa de um amigo mais próximo, e ambos encaram as paredes e proseiam sobre a vida alheia.
Sobre a indignação, e sobre aquele sentimento de impotência diante da vida.
Sabe aqueles dias em que você mal acorda?




                                            Salvador, 18 de junho de 2012



 Alexsandro Santos de Jesus


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Estrela vermelha


Há tempos observo uma estrela, uma pequenina, que surge timidamente à tardinha e quase sempre brilha mais que as outras, pois, eis que estas ainda não surgiram no céu alaranjado e ofuscante da patrimonial orla marítima de Salvador.
E venho correndo, com meias cinza na altura das canelas  e um traje típico de quem quer apenas marcar presença na movimentada calçada da Barra. As ondas vêem os jovens amantes à beira mar e vêm lamber-lhes os pés quase sempre descalços. São alguns universitários com seus papos intelectualizados a fim de conquistar a mocinha mais bela da classe, ou é alguma turista doidivanas em sua sandália de couro comprada no Pelourinho, ou simplesmente algum morador do bairro em questão. O fato é que tudo está em constante movimento.
E a estrelinha? Essa continua lá, pusilânime, avermelhada e solitária.
Pressuponho: “Simplesmente decaem todos os astros na insânia do universo”
“Posso ver com toda a razão dos homens que as estrelas tornar-se-ão vermelhas.”
Bem, ao menos àquela estrelinha tímida cabe esta conjectura.
Vejo a construção em pedra e seus luminares. Será que ainda serve de sinal a algum navio negreiro? Ou será que simplesmente serve de adorno à paisagem?
Os passos largos, a respiração ofegante. Percebo que não sou o mesmo, engordei, caio deitado no gramado e encaro a estrela, as outras se enfileiram em volta dela, mas a coitada parece indiferente, talvez ela seja muda ou cega.
E será que ela vai guiar os reis magos à Belém da Judéia?
Talvez ela deseje enfeitar o topo duma árvore de natal ou transformar-se em estrela cadente e num mergulho atingir o fundo do oceano. Seria então estrela-do-mar?
Apesar da boca seca os olhos umedecem e uma dor fugaz faz-se presente neste instante. Ela se foi!
Percebi enfim que conversava com um fantasma e seguia um vestígio de luz incandescente, proveniente de uma explosão cósmica. Que decepção!
O novo já nasce velho e o vivo exibe-se morto? E há bilhões de anos aquela estrelinha vermelha vem fazendo-se de viva a qualquer inocente como eu.
E eu que pensava em escrever-lhe uma poesia num pedaço de seda e enviar-lhe numa pipa cintilante cor etérea. Sigo meu caminho desapontado e penso comigo:
“Estrelas são iguais a comunistas; se usam vermelho demais é porque já não existem, e presos a nostalgia erguem-se da imagem reluzente de um futuro morto.”
Neste instante passou por mim um senhor de calças bege e camisa verde aberta, usava por baixo uma camiseta branca com rosto de Fidel Castro.
Pensei em Ernesto, de fato a estrela morreu.



                                                                                    

                                         Salvador, 09 de dezembro de 2010





Alexandro Santos de Jesus





“Comemorarei as festas de fim de ano em algum ponto brilhante da cidade”




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Um amigo de concreto

Pela janela do meu quarto, numa tarde mormacenta, percebo com certa surpresa mais um edifício que se ergue e insinua-se para a rua.
Percebi distantes suas vidraças fumês, e os pára-raios em seu cume servindo de adornos.
Montanhescos devem ser seus habitantes, talvez tenham vindo de algum país distante e gélido, sentindo falta de ter uma visão panorâmica de tudo, compraram um apartamento no ultimo andar. E suponho que devam sentir falta do frio natal, isso explicaria as enumeras protuberâncias metálicas que brotam das paredes, deixando evidente o uso exagerado de ares-condicionados.
Contudo o que realmente me desperta interesse não são seus moradores, mas sim sua imagem dura de prédio, sua beleza vertical e concreta.
A sua cor é ocre, envelhecido, deve ter sido pintado há alguns anos.
Senti vontade de registrar sua existência, pois, todas as manhãs quando abro a janela é com sua indiferença que me defronto. Todavia não sou indiferente à sua existência.
Este edifício é diferente dos pequenos prédios do subúrbio, não há fios transpassando-lhe às lajes, nem meninos com seus papagaios e pipas embelezando o céu, é tempo de férias e não vejo os meninos.
Devem estar presos em casa. Seus pais devem imaginar que o sol daqui possa queimar suas peles claras.
O crepúsculo torna a imagem a minha frente ainda mais melancólica, pálidas são as nuvens, e faltam os meninos nas lajes. Que falta me faz os meninos!
Guardo apenas a parte sem sombras do retrato, e de manhã poderei novamente contemplar a beleza do meu imponente vizinho de concreto e aço. E talvez não mais sentirei falta dos meninos, quando sair do meu esconderijo e topar com os moleques numa dessas pracinhas.
Meu amigo gigante me demonstra com certa poesia, que sozinhos não somos capazes de viver, me faz sentir falta dos meninos nas lajes, ou do lugar de onde vim?
Bem, uma coisa ou outra, é prudente concluir; que devo sair numa hora dessas e topar com os meninos na pracinha, ou imitar as construções que existem em volta do imenso prédio, eles parecem conversar uns com os outros.
Guardarei sua imagem com carinho, e quando me for – se é que um dia me mudarei daqui – lembrarei de ti amigo mudo, surdo, indiferente, imóvel e concreto.
E quem sabe eu irei estar contigo, mais um momento, ao passar na rua e lhe avistar a testa coberta com seus vidros fumês.



                                                                               

                                                       Salvador, 16 de novembro de 2010



       

Alexsandro Santos de Jesus

 


"Como Drummond, que outrora observara do escritório, eis que tenho observado aqui do quarto”                        



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Marinheiro aposentado



E perguntaram-lhe:

- Donde veio velho ermitão? E quem és tu?

O idoso, com sua pompa de militar aposentado, e seu belo cachimbo entre os lábios, mantinha-se distante, em seu pesar de ex-combatente.
A fila estendia-se em volta do edifício como uma imensa moréia enrodilhada num coral; o calor era quase insuportável.
O aroma do tabaco alastrava-se em frente à porta:

- Quem sou eu? Tenho o quádruplo da sua idade, filho. Estou aqui por misericórdia divina, pois idoso neste país tem o hábito de vir a óbito o mais cedo possível para não dar trabalho. E labutam a vida inteira, defendem a pátria e os interesses do Estado. Vem você a perguntar quem sou eu?!

De repente o silêncio fez-se presente, acalmaram-se os transeuntes, e a carrocinha de cachorro-quente.
Uma moça, aparentando ter seus vinte e poucos anos, gritou em meio à multidão silenciosa:

- Deixem o tiozinho passar!

O jovenzinho irredutível, metido a autoridade:

- Não, o senhor me perdoe, mas não o deixarei passar.

Ignorando os apelos do velho marinheiro, o segurança do banco, recém admitido no cargo, chamou um por um os presentes:

- Próximo!

Bem, nem a moça gentil cedeu seu lugar. O velho marinheiro fritou ao sol já do meio-dia; na fila um homem vestia uma camiseta branca com o seguinte enunciado: respeite o idoso, respeito a si mesmo.
Mas nesta segunda-feira ensolarada de novembro, ninguém quis manter o idealismo expresso em estampa.
No dia seguinte todos souberam ao ler o obituário, que aquele senhor de cabeleira alva já não mais precisaria passar à frente dos mais jovens na fila bancaria.
Jazia sob a terra, sepultado apenas com seu inseparável cachimbo. Sem parentes no funeral, nem mesmo seus amigos de batalhas e navegações.
O fato é que um enfisema pulmonar, devido ao uso do tabaco, somado há um dia inteiro sob o sol escaldante numa fila de banco, aos 80 anos de idade levara o intrépido marinheiro ao tão indesejável fim.

Quem você será daqui a vinte ou trinta anos?

O Marinheiro?

Quem você é hoje?

O segurança?

Sabe-se que, o segurança lá continua em seu esplendoroso servir.

Parece que o marinheiro tinha realmente certeza a respeito da situação do idoso em nosso país, faz-se necessário refletir a respeito.



                                                        

                                                     Salvador, 10 de novembro de 2010



       Alexsandro Santos de Jesus

 




“Do meu infinito particular”